O Dia em Que o Menino Jesus Sumiu

Há muitos anos, quando eu tinha por volta de quatro anos de idade, meus pais e eu junto de outros familiares, passávamos a véspera de Natal na casa de minha avó Maria. Na casa dela havia algo que eu nunca tinha visto antes: pessoinhas pequenas com roupas antigas que moravam em uma cidade de pedra e passeavam pelos calçamentos da cidade levando ovelhas, bois e diversos animais. Havia uma roda dágua com água de verdade e em algumas das casas havia iluminação. Foi a primeira vez que vi um presépio e não poderia ter visto mais belo. Uma criança não entende tudo, mas no centro daquela miniatura havia uma casinha coberta de palha e o casal sagrado ao redor de um cochinho. Todas as personagens pessoas e animais olhavam para lá. Apesar da curiosidade ser grande, minha tia Maria vigiava para que nenhuma das crianças mexesse no cenário.

No dia 25 de dezembro pela manhã essas mesmas crianças, minhas primas e primos, constataram a existência de um novo morador nacasinha de palha. Era o menino Jesus. A beleza do presépio, porém, durou pouco, pois pouco tempo depois o presépio havia sido “visitado” por alguém misterioso que havia levado embora o Menino Jesus. Logo instaurou-se uma investigação para saber qual das crianças havia subtraído o Rei dos Reis da manjedoura. Ninguém sabia de nada e os principais suspeitos foram averiguados, eu sendo o principal deles. Porém, quando menos se esperava, o Sagrado Menino foi encontrado “dormindo” na cama da vovó, com coberta, travesseiro e tudo. Quem teria levado ele até lá? Suspense, mistério… A priminha que tinha três anos foi quem revelou a autoria do delito. Quando tia Maria foi retirar o novo morador do quarto para devolvê-lo ao convívio da cidade que havia sido preparada para ele, a criança segurou nas pernas da tia e dizia “tá tum fio”. Convocada a mãe da meliante para servir de intérprete, ela esclareceu o significado das palavras enigmáticas. Segundo a tradutora, as palavras da priminha queriam dizer “Ele está com frio”, referindo-se à pobreza rústica do cocho dos animais, a famosa manjedoura. Então todos entenderam o que ela tinha feito. Na cabeça dela, que era um bebê adorável, outro bebê não poderia ficar naquele lugar, nem que fosse um bebê de miniatura, ainda menos “Zezus” como ela dizia.

Hoje, sempre que vejo um presépio, penso que Deus quis nascer daquele modo tão simples e ocupar o estábulo para lembrar que ali realmente não é o lugar Dele. Ele foi colocado no berço mais humilde do mundo para que nós tivéssemos a oportunidade de oferecer a Ele o trono mais belo do mundo, o nosso coração. Cada pessoa construiu e constrói uma história diferente e eu não acho que as pessoas estão “fechadas para Deus”. A meu ver, elas estão, em sua maioria, apenas confusas e um pouco perdidas, com certeza cansadas e talvez assustadas, mas sempre com espaço para receber Jesus.

Que neste Natal você possa pensar em como acolher Jesus Menino na tua vida e como providenciar para Ele o melhor lugar que você conseguir, como fez minha sensata priminha de três anos. Ela colocou Jesus no lugar mais importante e mais nobre. Que o Menino Deus enrolado em faixas seja abraçado, acolhido e colocado no centro da tua vida.

Feliz Natal!

Altierez dos Santos.