27 de novembro – 1º domingo do Advento (Ano A)
Por Izabel Patuzzo*
Preparai-vos, pois o Senhor está para chegar!
I. INTRODUÇÃO GERAL
O 1º domingo do Advento marca o início do novo ano litúrgico para a Igreja. O Advento é, para nós, um tempo de graça que nos ajuda a bem preparar o Natal. A celebração da vinda do Senhor deve ser preparada, em primeiro lugar, em nosso coração. Dois elementos centrais de nossa fé caracterizam este tempo de espera: o nascimento do Salvador, que se encarna na realidade humana, e sua vinda final gloriosa, no fim dos tempos. Os temas-chave da época do Advento são a espera vigilante, a preparação dos caminhos do Senhor e a conversão, como busca da justiça e do amor.
Na primeira leitura, o profeta Isaías convida toda a comunidade dos fiéis, todas as raças e nações, a se dirigirem para a montanha, o lugar do encontro com o Senhor. E desse encontro com Ele e com sua Palavra nasce um novo mundo de concórdia, harmonia e paz. O Senhor faz de todas as nações um só povo, reunido ao seu redor.
Pode ser desafiador ficar acordado a noite toda, seja cuidando de um parente doente, seja esperando um ente querido voltar de viagem. A segunda leitura e o Evangelho mencionam o tema do ficar acordado, aguardando o Senhor Jesus voltar em sua glória. No Evangelho de Mateus, Jesus diz a seus ouvintes que fiquem despertos, pois não sabem o dia em que o Senhor virá. Ele recorda que, nos dias de Noé, as pessoas cuidavam de seus negócios até que veio o dilúvio e não perceberam os sinais da catástrofe. Portanto, adverte seus discípulos de que eles devem estar preparados para a vinda do Filho do Homem.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
- I leitura (Is 2,1-5)
O texto de Isaías é um oráculo que se encontra também no livro do profeta Miqueias, o que indica que era uma fórmula conhecida nos círculos proféticos. O profeta anuncia que nova ordem está para surgir. A escolha de Sião como morada do Senhor Deus, como lugar de proteção especial, tem como objetivo ressaltar que a peregrinação das nações não é para confrontos e destruição, como muitas vezes acontecia. O motivo da grande assembleia é destruir as armas de violência e construir a paz.
A mensagem central do texto é a busca da instrução na Lei do Senhor. O verdadeiro significado da Torá é traduzir em ações concretas a retidão e a justiça; trata-se de um comportamento ético-moral de quem busca trilhar os caminhos do Senhor. O anúncio profético se projeta para uma realidade futura. A diferença entre o presente e o futuro ideal aqui descrito é que, no presente, a Torá está sendo rejeitada até mesmo pelo povo escolhido, enquanto, no futuro, todos irão pautar sua vida na acolhida dos ensinamentos do Senhor. A paz aqui descrita exige renunciar a todas as guerras, ao pensamento de conquista, à subjugação de um povo por outro, e acolher, em sua inteireza, as normas prescritas pelo Senhor.
A visão do profeta é sobre o monte onde está o templo do Senhor. Lá é sua morada, e o desejo do Senhor é fazer todos os povos convergirem para ele. Ele proporcionará esse encontro de paz entre todos os povos e raças. Assim, já não haverá divisões nem inimizades. Na medida em que todos se reúnem ao redor do Senhor, escutam sua Palavra e aprendem seus caminhos, as intrigas, divisões, guerras, hostilidades e conflitos vão se desfazendo. Desse encontro harmonioso com Deus e entre as nações resulta o progresso, o entendimento entre os povos, a cooperação, a abundância e a paz.
- II leitura (Rm 13,11-14)
O apóstolo Paulo provavelmente compôs a carta aos Romanos durante sua terceira viagem missionária, quando estava em Corinto. Ele estava se preparando para partir para Jerusalém a fim de levar a coleta que havia feito nas comunidades da Ásia Menor em benefício da comunidade mãe, que passava por privações.
A mensagem do texto é uma exortação escatológica dirigida aos cristãos de Roma; eles devem perceber que já estão vivendo um tempo de graça. Aqueles que abraçaram a fé em Jesus Cristo são chamados a expressar, por meio de suas ações, sua identidade cristã e adotar uma conduta de discípulos do Senhor. Portanto, esse é o tempo para que os cristãos vivam a própria fé, agindo por meio da caridade. É hora de acordar, porque a salvação está próxima. Ao dizer que a noite avançou, Paulo está sugerindo que não há muito tempo a separar os cristãos de seu destino final, que é a comunhão com Cristo. A leitura proposta para este domingo exorta os cristãos da comunidade de Roma a expressar o amor mútuo e permanecerem vigilantes até a vinda do Senhor, quando ele concluirá a história da salvação, no fim dos tempos.
Paulo, assim como seus contemporâneos, certamente acreditava que a segunda vinda de Jesus Cristo seria em um futuro não tão distante. Ele viria para concluir a história da salvação. Havia grupos religiosos que faziam especulações em torno dessas expectativas, mas o apóstolo não estava interessado em quando isso iria acontecer, e sim no modo como os cristãos deveriam aguardar a segunda vinda do Senhor; quais eram as consequências e o testemunho que deveriam dar no tempo dessa espera.
- Evangelho (Mt 24,37-44)
O Evangelho deste domingo é uma parte dos últimos discursos de Jesus antes da sua paixão e morte, em Jerusalém. O tema central dessa seção é a vinda do Filho do Homem, um dos títulos atribuídos ao Messias enviado por Deus. Sua chegada deve ser precedida por uma série de atitudes que indicam a vigilância daqueles que aguardam o Senhor.
Mateus contempla a realidade de sua comunidade, que provavelmente já havia presenciado a destruição do templo de Jerusalém. Preocupado com os sinais de abandono, de acomodação e de esfriamento no testemunho, ele sente a necessidade de renovar o compromisso de fé. É preciso reconstruir a esperança dos membros de sua comunidade, fazendo uma retrospectiva da história da salvação. O discurso de Jesus toma como exemplo o que aconteceu no tempo de Noé. Muitas pessoas tiraram conclusões erradas e ignoraram os sinais que precederam a inundação, porque estavam preocupadas somente com as coisas passageiras e foram completamente descuidadas com as coisas que dizem respeito a Deus.
O evangelista explicita que essa ignorância estúpida e culposa levou à destruição total de todos aqueles que não foram atentos aos sinais dos tempos. Tomando fatos conhecidos da história, o evangelista exorta a comunidade a permanecer vigilante e a reconhecer os sinais que precedem a chegada de Deus. Essa exortação se fundamenta na profunda convicção de que a vinda de Jesus Cristo é certa, ainda que não aconteça em breve. Porém, enquanto tal momento não chega, é preciso estarmos preparados para esse grande evento, vivendo de acordo com os ensinamentos do Mestre e Senhor, pois ninguém sabe nem o dia nem a hora em que tudo isso sucederá. O verdadeiro discípulo está sempre atento e vigilante, preparado para acolher o Senhor.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O tempo do Advento é um convite para estarmos vigilantes, preparados para acolher todas as oportunidades de salvação que Deus nos oferece continuamente. Sua vinda ao nosso encontro nos desafia a compartilhar algo com os irmãos e irmãs empobrecidos, renunciando à avareza e ao egoísmo.
As leituras nos apresentam algumas atitudes que impedem o ser humano de acolher o Senhor que vem. Fazem pensar naqueles que orientam toda a sua vida para a busca de satisfação pessoal e prazeres efêmeros, que vivem obcecados pelo trabalho desenfreado e fundamentam sua felicidade nos bens materiais. Ou, então, naqueles que desistem de lutar por uma vida mais digna, que vivem sem perspectiva de um futuro melhor. As leituras falam do adormecer, do acomodar-se, sem prestar atenção nas realidades mais essenciais. São uma advertência para toda gente que ignora os sofrimentos dos irmãos e irmãs, sob a justificativa de que as mazelas sociais são um problema das políticas públicas e que não somos responsáveis pelo sofrimento alheio.
Neste tempo de preparação para a celebração do nascimento do Senhor, a Igreja nos convida a recentrar nossa vida, focando no essencial, naquilo que é mais importante, reordenando nossas escolhas e prestando atenção nas oportunidades que o Senhor, no dia a dia, nos oferece como a melhor forma de nos preparar para sua vinda.